Intoxicação Alcoólica Aguda

Etanol, álcool etílico ou simplesmente álcool. Agora diz aí: você sabe de verdade com o que está lidando? O velho conhecido nas emergências é motivo frequente de atendimentos. Consumido geralmente por recreação – mais ainda agora durante o Carnaval – é também a substância mais ingerida junto a outros fármacos em tentativas de suicídio.

O etanol, após ingerido, é logo absorvido e distribuído pela água corporal e tudo que é ingerido é metabolizado, sendo eliminado principalmente por oxidação no fígado. As manifestações do uso de álcool podem ir de euforia e desinibição social ao coma profundo ou depressão respiratória. O nível necessário de consumo para induzir os sintomas mais graves é altamente variável: depende do grau de tolerância do indivíduo, idade, comorbidades e uso concomitante de outras substâncias, por exemplo. Dessa maneira, embora haja uma correlação dos sintomas com os níveis plasmáticos de etanol, essa associação não é fraca.

Apresentação clínica

Euforia, desinibição social

Ataxia – variável conforme o nível de intoxicação

Hipoglicemia pode ser causada pelo comprometimento da gliconeogênese em pacientes com reserva de glicogênio reduzidas ou depletadas

Depressão do sistema nervoso central é o principal efeito da intoxicação aguda por etanol.

Depressão ventilatória

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Riscos secundários

Predisposição a trauma – comprometimento do tempo de reação e juízo crítico

Hipotermia – exposição

Aspiração pulmonar – ausência de proteção de via aérea por rebaixamento de sensório

Rabdomiólise – pode advir da imobilidade prolongada

Identificar o paciente com intoxicação aguda por álcool é geralmente simples: com base na história de ingestão, no cheiro característico do álcool fresco ou no odor fétido do acetaldeído e de outros produtos metabólicos, na presença de nistagmo, ataxia e estado mental alterado. Entretanto, outros distúrbios podem acompanhar ou mimetizar a intoxicação, como hipoglicemia, traumatismo craniano, hipotermia, meningite, encefalopatia de Wernicke e intoxicação por outros fármacos ou venenos, portanto é preciso ter cuidado com pré julgamentos e vieses cognitivos.

Abordagem inicial da intoxicação alcoólica aguda

● Manter atitude receptiva, sem julgamento moral

● Avaliação primária – atentar para risco de aspiração

● Manutenção de hidratação adequada

● Pesquisar intoxicações anteriores

● Manter em local seguro – atentar para risco de queda

● Em caso de agitação intensa ou violência física, pode ser usado haloperidol, tendo o cuidado de observar risco de depressão respiratória.

● A contenção mecânica do paciente deve ser uma alternativa quando fracassadas as demais intervenções

● Corrigir hipoglicemia com administração de glicose, concomitante a tiamina, principalmente em pacientes crônicos.

● Corrigir a hipotermia com reaquecimento gradual

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E o que não fazer?

● Atentar para drogas depressoras do sistema nervoso central, que não devem ser realizadas se não houver estrutura adequada com suporte ventilatório no local do atendimento.

● Como o etanol é rapidamente absorvido, a descontaminação gástrica – carvão ativado ou sonda nasogástrica – normalmente não é indicada, a menos que se suspeite da ingestão de outro fármaco.

● Não existe antagonista específico do receptor de etanol disponível, apesar dos registros de ativação após a administração de naloxona.

Exame complementares:

● Estudos laboratoriais sugeridos no paciente gravemente intoxicado podem incluir glicose, eletrólitos, ureia, creatinina, aminotransferases hepáticas, tempo de protrombina (TP/RNI), magnésio e gasometria arterial.

● Radiografia de tórax – em caso de suspeita de aspiração pulmonar

● Tomografia de crânio se o paciente apresentar déficits neurológicos focais ou estigmas de trauma

SEGUIMENTO

Resolvido o caso agudo, é necessário investigar se este fato foi um episódio isolado ou não. deve-se verificar o consumo diário de álcool e sua frequência semanal, podendo ser aplicados questionários específicos. Em caso de resultado positivo, é aconselhável encaminhar para serviço especializado em tratamento de alcoolismo. Ainda que seja um caso isolado, o paciente deve ser orientado quanto aos riscos do consumo do álcool e também do potencial risco a terceiros.

REFERÊNCIAS

1. Klein LR, et al. Unsuspected Critical Illness Among Emergency Department Patients Presenting for Acute Alcohol Intoxication. Ann Emerg Med, 2018.

2. Diretrizes Clínicas da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais, capítulo 34, Intoxicação alcoólica aguda, protocolos clínicos. 2013. Disponível em http://www.fhemig.mg.gov.br

3. Kent RO, Manual de toxicologia clínica. AMGH, 2014.

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